domingo, 29 de junho de 2014

Nova ISO 9001:2015 – Entenda o que mudará na versão da norma


Fonte: Papo Informativo




Depois da versão de 1994 e 2000, a norma ISO 9001 finalmente sofrerá uma mudança significativa às organizações que a seguem. Embora a “família ISO 9000” tenha sofrido várias revisões desde sua versão original (ISO 9000:1987, ISO 9000:1994, ISO 9000:2000 e ISO 9001:2008), as mudanças que estão por vir na nova ISO 9001:2015 aparentam ser bem mais significativas e, no mínimo, mais interessantes.
Poucos realmente sabem, mas a ISO – que é conhecida como Organização Internacional de Normalização (International Organization for Standardization), na verdade possui esse nome, pois se trata de um sinônimo de isonomia. Em termos práticos, está aberta à todos, sem distinção ou diferenciação, nem barreiras tarifárias.
A ISO possui como missão “Desenvolver normas voluntárias internacionais de alta qualidade que facilitam o intercâmbio internacional de bens e serviços, apoiam o crescimento econômico sustentável e equitativo, promovem a inovação e protegem a saúde, a segurança e o meio ambiente”. Essa missão é cumprida por meio do desenvolvimento de normas, testes e certificações, encorajando o comércio de bens de serviços mundial.
No cenário atual (2014) a norma ISO mais conhecida é a ISO 9001 (no Brasil, ABNT NBR ISO 9001), que está na versão de 2008 (a versão equivale ao ano em que a norma foi publicada). A ISO 9001:2008 aborda os requisitos para um sistema de gestão da qualidade.
De modo sucinto, as mudanças que ocorreram na norma até agora foram:
  • 1987: foi publicada a primeira versão;
  • 1994: ocorreu a primeira e grande revisão, tendo como objetivo a melhoria dos requisitos, dando ênfase à natureza preventiva da garantia da qualidade;
  • 2000: ocorreu a segunda revisão da norma, cujo foco foi voltado ao cliente e mais adequado aos princípios do controle da qualidade total;
  • 2005: ocorreram pequenas revisões pontuais aplicadas apenas à ISO 9000;
  • 2008: esta é considerada a terceira revisão da norma, que também teve poucas mudanças, visando melhorar o entendimento sobre a mesma.
Na intenção de cumprir a proposta de revisão da ISO 9001:2015 foi elaborado um cronograma de atividades, cujo marco deu-se em Junho de 2012 e possui previsão de término em Setembro de 2015, conforme podemos observar na Figura 1.

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Figura 1 – Cronograma para revisão da nova ISO 9001:2015.
Fonte: extraído do site da ISO.
Por meio do cronograma acima é possível visualizar que atualmente (maio/14) o processo de revisão deveria estar na fase de votação do DIS, no entanto, devido a atrasos, o mesmo está previsto para o dia 10 de Julho de 2014. O DIS (em inglês Draft International Standard) trata-se de um “rascunho” da norma, contudo após essa votação mais de 80% da norma estará definida e dificilmente mudará.

O rascunho da nova ISO 9001:2015 já está disponível para consulta pública:

Clique aqui para saber mais (em inglês).
Há tempos as organizações no geral já sentiam a necessidade de uma revisão no conteúdo da ISO 9001, principalmente no tocante ao reflexo das práticas empresariais modernas, mudanças no ambiente de negócios e evolução tecnológica. O que se espera da revisão proposta pela nova ISO 9001:2015 é uma mudança bem mais significativa em termos de adaptação das organizações, mais integrada, fomentando iniciativas de desenvolvimento sustentáveis entre outros aspectos. A Figura 2 apresenta essa relação, onde o desenvolvimento sustentável é o resultado da intersecção dos três aspectos principais: equidade social, grupo econômico e integridade ambiental.
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Figura 2 – Três aspectos para o desenvolvimento sustentável.
Para facilitar o entendimento do conteúdo da nova ISO 9001:2015, será abordado abaixo os principais pontos da norma, baseado no documento ISO/DIS 9001:2015, publicado este mês. As seções estão organizadas da seguinte maneira:
  • Nova estrutura proposta;
  • Novidades significativas;
  • Mudanças significativas;
  • Exclusões significativas;
  • Transição para nova ISO 9001:2015.

NOVA ESTRUTURA PROPOSTA:

A nova ISO 9001:2015 apresenta uma estrutura diferente da versão atual em diversos aspectos. Com o objetivo de facilitar a visualização e o entendimento acerca das novidades e mudanças, está disponível inteiramente grátis um descritivo em PDF com a estrutura contida no rascunho ISO/DIS 9001:2015 publicado em mai/14.
Clique aqui para Download (em português) da estrutura proposta para nova ISO 9001:2015.

NOVIDADES SIGNIFICATIVAS:

Novo posicionamento da liderança
Será exigida uma participação por parte da liderança bem mais ativa junto à alta direção.
Disponibilização da política às partes interessadas
A política da qualidade não ficará apenas sob domínio interno da organização, ao contrário, terá de estar disponível para consulta das partes interessadas no negócio. A partir da nova ISO 9001:2015 será necessária a liberação de acesso e divulgação em vários canais de comunicação, como os sites institucionais, por exemplo.
Determinação e Controle de Riscos – relação com Controle de Mudanças
Será necessária a determinação e tratativa para o controle de riscos sob uma visão macro, não mais apenas dos processos. Com isso, a gestão de mudanças se fortalecerá na nova ISO 9001:2015, sendo necessária a realização da análise de riscos, quando da ocorrência de mudanças. Vale salientar que poderá ser adotado como referência para determinação e controle de riscos as diretrizes da ISO 31000.
Necessidade de estabelecer um planejamento para atingir os objetivos da qualidade
Assim que entrar em vigor a nova ISO 9001:2015, não bastará criar uma planilha em Excel associando os princípios aos objetivos da qualidade, derivados da política da qualidade. Na nova ISO 9001:2015 será necessário o estabelecimento de metas e planos de ação coerentes (5W2H), a determinação dos recursos necessários em cada ação e os critérios para avaliação dos resultados (indicador de eficácia).
Descrição mais genérica sobre dispositivos de medição e monitoramento
Há uma certa dificuldade quanto ao entendimento deste item na versão 2008 da norma. Contudo, a versão 2015 deixou o texto mais genérico, mas na prática os controles permanecem praticamente imutáveis.
Inclusão do termo “Conscientização”
Esse termo tem se fortalecido à medida que há um engajamento maior entre todas as partes interessadas, sejam elas quais forem. Com o conceito de “Qualidade Integrada”, existe uma tendência na nova ISO 9001:2015 de todos estarem mais conscientes em relação a responsabilidade socioambiental.
Tratamento de reclamações por partes interessadas
Será necessário registro e tratamento de todas as reclamações feitas pelas partes interessadas. Contudo, não será necessário por parte da organização, atender a uma exigência específica de uma parte interessada, caso a mesma considere que essa exigência não é pertinente ao escopo do Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ).
Gerenciamento de Fornecedores por meio de Análise de Risco
Será possível realizar a homologação e o controle dos fornecedores tendo como base a Análise de Risco. Também será possível na nova ISO 9001:2015 definir junto ao fornecedor como tratar propriedade do fornecedor de posse da organização.
Introdução de gestão de configuração
Gestão de configuração estará disponível no processo de desenvolvimento.
Inclusão do termo “transferência”
Também em desenvolvimento será incluído o termo “transferência” para produção.
Inclusão da Análise de Risco no programa de auditoria
Além dos resultados das auditorias anteriores, a análise de risco será incluída na definição do programa de auditoria.

MUDANÇAS SIGNIFICATIVAS:

8 princípios de gestão da qualidade
A primeira mudança significativa na nova ISO 9001:2015 consiste na revisão dos atuais 8 princípios da qualidade, resultando em 7 princípios:
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Figura 3 – Os 7 novos princípios de gestão da qualidade propostos pela nova ISO 9001:2015.
Como é possível observar na Figura 3, a partir da versão 2015 o princípio 5 “Abordagem de sistema para gestão” passará a estar contido dentro do atual princípio 4 – “Abordagem de processo”, sendo o descritivo do último mantido.
Obrigatoriedade de definição mais precisa quanto a comunicação Interna e Externa
Será necessário criar um pequeno plano de ação para comunicação interna e externa, identificando “o que” deve ser feito, “como” e “com/para quem”.
“Bens e serviços” ao invés de “produto”
O foco da nova ISO 9001:2015 não está mais apenas no produto, mas também nos serviços. “Bens e serviços” englobarão as categorias como serviços, materiais processados, hardware e software.
O termo “Controle de Fornecimento Externo de Bens e serviços” substitui “Aquisição”
O atual item “Aquisição” será substituído pelo “Controle de Fornecimento Externo de Bens e serviços”. Esse item abrangerá todas as formas de fornecimento externo, seja ele por meio da compra de um fornecedor, acordo com empresa associada, terceirização de processos e funções da organização ou por qualquer outro meio. Com a nova ISO 9001 será necessária uma abordagem baseada em riscos, aplicados em determinados fornecedores externos e para produtos e serviços fornecidos externamente, a fim de determinar o tipo e a extensão dos controles apropriados.

EXCLUSÕES SIGNIFICATIVAS:

Excluído o papel do Representante da Direção (RD)
Como a proposta da nova norma consiste em dar mais poder de decisão e reporte às lideranças, a atividade que o RD fazia continuará de um modo mais descentralizado, com mais responsabilidade dos gestores de áreas. Desta forma, na nova ISO 9001:2015, a figura obrigatória do RD desaparecerá.
Excluída a obrigatoriedade de se ter um Manual da Qualidade
Tudo indica que a partir da nova ISO 9001:2015 não será mais mandatório que as empresas tenham um manual da qualidade. Na prática, o documento poderá continuar existindo sem problemas. Uma sugestão que fica é a de alterar o título “Manual” para algo como “Diretrizes organizacionais”, mantendo a essência já contida no manual atual, independente do escopo, seja ele de qualidade (para atual ISO 9001:2008) ou demais escopos (Sistema Integrado de Gestão – SGI).
Exclusão do “Treinamento”
Não há porque se desesperar, pois o que será excluído na verdade é o termo “Treinamento”, que dará lugar ao termo “Conhecimento”. Para realizar a análise e o controle do conhecimento organizacional será preciso levar em conta o contexto atual da empresa, considerando seu porte (tamanho), sua complexidade, seus riscos e oportunidades, bem como a necessidade de acesso a esse conhecimento. Os demais requisitos de treinamento estarão juntos no item de “Competência”
Exclusão do “Controle de Documentos” e “Controle de Registros”
Assim como Treinamento, não, os documentos e registros não serão extintos. Seus termos, porém, sim. Darão lugar aos termos “Informação Documentada” e “Controle da Informação Documentada”.

Exclusão do termo “contínua”, no contexto de melhoria
A partir dessa exclusão ficará apenas o termo Melhoria. Numa análise profunda é possível afirmar que o “contínua” era praticamente um pleonasmo, pois se o conceito de melhoria for institucionalizado de modo correto, ela será contínua.
Exclusão da “Ação Preventiva”
Sim, essa exclusão é pra valer! Na nova ISO 9001:2015 a ação preventiva será excluída (não somente o termo, mas tudo), e o que outrora era preventiva se tornará Melhoria. Aqui a ISO criou um problemão pra quem possui ISO/TS 16949, pois a TS possui forte atuação na Prevenção. Tem que esperar pra ver como será resolvida essa questão.

TRANSIÇÃO PARA NOVA ISO 9001:2015

Apenas para tranquilizá-los, não existe nenhum requisito na nova ISO 9001:2015 que obrigue a substituição dos termos já utilizados por uma organização acreditada na versão 2008. Contudo, essa prática torna-se recomendada – mesmo que gradativamente – uma vez que as mudanças propostas pela versão 2015 vieram para ficar.
Conforme o Cronograma de revisão da ISO 9001:2015 apresentado na Figura 1, o prazo previsto para publicação da norma é Setembro de 2015. Frente as grandes mudanças propostas pela versão 2015, o período mais provável para transição é de 3 anos (2018), embora o “padrão” seja 2 anos.
Sabendo disso, o que nós da equipe Papo Informativo recomendamos é que o início do processo de transição deve começar hoje mesmo, aproveitando que a DIS foi publicada este mês (Mai/14). Desta forma, o impacto da mudança em toda organização será minimizado, uma vez que o prazo está a favor.
A intenção é se preparar da melhor forma possível para que os impactos sejam minimizados ao máximo. Contudo, não há dúvidas de que as mudanças tirarão o sono de muita gente, mas se seguirem as dicas deste artigo temos a certeza que conseguirão realizar um bom Planejamento (P), para Execução (D) controlada, dotada de importantes pontos de Verificação (C) e implementação de Ações (A), caso necessário.
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